Coisas que crianças já me disseram


   Sou professor e educador, caso o distinto leitor não saiba. Gosto muito de crianças. Sempre gostei. E por alguma razão que não compreendo, sempre tive um talento natural de fazê-las gostarem de mim. Tirando os meus sobrinhos, é claro. É meu carma, mas fora isso, todas as crianças com quem já precisei lidar, entre filhos de parentes e estágios em escolas e creches, de uma forma geral, sempre se davam bem comigo. Mas as vezes elas me colocavam em certas situações que só elas mesmas são capazes.
   Um deles é o Lucas (Preciso explicar que por razões éticas os nomes estão trocados? Ótimo!) de quatro anos. Quando eu fazia estágio em creches e acompanhava o trabalho dos professores (que é parte do meu curso de pedagogia) sempre aproveitava para comer lá mesmo. A merenda da minha cidade é muito boa, acho que podemos nos orgulhar disso. E aí, eu me sentava com as crianças para comer. Numa dessas, há uns anos atrás, não lembro em que contexto, o Lucas solta:
   -Tio, sabia que a minha mãe faz pepino de chocolate para mim?
   -Que?
   O significado disso fica a cargo de sua imaginação, caro leitor.
   Outro garotinho foi o Ramon, também com quatro anos na época. Ramon soltou uma pérola que nunca mais eu esqueci ele ou o seu rosto. Também foi na hora do almoço.
   -Tio, casa com a minha mãe? Ela faz suquinho de laranja para você todo dia!
   Naquele momento eu travei de uma forma que nunca mais travaria de novo (talvez quando precisar pagar o imposto de renda), sem ter a menor ideia de como proceder a respeito! Mas depois, acabei achando engraçada a ideia minimalista de casamento que ele tinha: As pessoas podem se casar somente a troco de um suco de laranja! E tudo bem!
   O prêmio de cara de pau mesmo vai para a Helen. Também tinha 4 anos na época. Uma certa vez, enquanto aguardavam para irem para a sala onde aconteceria a próxima atividade, vejo um sapato voar na frente dos meus olhos. Helen vai até ele e o coloca no pé.
   -Helen, porque você tirou o sapato?
   -Eu não tirei, foi ele que voou!
   É engraçado como certas crianças não precisam de LSD para sair da realidade.
   Por último, mas não menos importante, o Carlinhos. Eu nunca vou esquecer o Carlinhos depois de tudo o que aconteceu naqueles tempos. Ele sempre me fazia perguntas sobre minha vida e quando eu ia para a creche com uma camiseta diferente, com alguma estampa diferente, ele era o primeiro a agitar. Uma vez fui com uma camiseta que tinha o desenho de um morcego:
   -AAAAH! O TIO É O BATMAN!
   Quem me dera, Carlinhos. E não foi nem um segundo para a turma toda começar a berrar junto, e a creche inteira descobrir o segredo que estava guardado desde os anos 1940. Mas a verdadeira situação que me deixou sem saber o que dizer foi outra:
   -Tio, você tem filhos?
   -Eu não, Carlinhos! Porque?
   -Mas, a sua mamãe não engravidou?
   -Porque a minha mãe teria que engravidar de mim, Carlinhos?
   A única coisa que eu conseguia pensar é que alguém tinha que avisar a mãe dele. Com urgência.
   Fui salvo pela professora nesse dia que viu a situação e explicou a ele que quem deveria me dar um filho é a minha futura esposa. Por sinal, ainda bem que agora ele sabe!

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Mais um texto tão infame quanto real revisitado da versão antiga desse blog.

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