Taxidermia no Casamento


   A coisa realmente ficou muito estranha depois que se casaram. Ele já sabia dessas manias estranhas dela, durante o namoro já tinha visto várias coisas, mas tudo começou a ficar estranho quando se casaram e foram morar juntos. Era filha de taxidermista, e tinha qualquer coisa de atrativo pelos animais mortos e pela morte. Seu primeiro bichinho de estimação foi um gato. Morto. Uma estátua que ficava na cabeceira da sua cama, tinha até hoje.
   Depois, foi crescendo e ganhando mais desses presentes de grego do pai. Um patinho, um lagarto. Quando começaram a namorar já tinha uma pequena selva morta no seu quarto, ao passo que os pais tinham um grande leão próximo a cama do casal. Ele nem conseguia começar a imaginar como era transar com aquela fera gigante olhando para eles.
   Mas quando se casaram e foram morar juntos, a coisa ficou insustentável. Não era pela presença dos animais em cima de tudo que é móvel. Isso ele até que tinha acostumado, embora as primeiras noites com ela fosse bem difíceis. E ele sempre se sentisse observado. Não era por isso. O verdadeiro problema começou em um dia, quando chegou do trabalho. Ela tirava o pó de um móvel enquanto falava sobre a novela. Com a coruja.
   -Ah, para! Você sabe que o Ricardo gosta da Sílvia! Qual é? Você viu como ele trata a Patrícia! Só se ela tentar o golpe da barriga! Ah, é mesmo, até o fim da novela pode mudar tudo!
   -Mariana?
   -Felipe! - Sorriu, indo até ele. Abraça-o. Beija-o. -Como foi o serviço?
   -Foi bem! Anh, o que você está fazendo?
   -Estou dando uma última olhada nos móveis! Queria ter terminado antes de você chegar!
   -Não, você... Estava falando sobre a novela com a Coruja?
   -Quem? A Dirce? Não estranhe! É que como ela fica aqui na sala então ela sempre acaba assistindo comigo! E ela adora a Netflix também!
   -D-dirce? É sério?
   -O que foi?
   -Amor, ela está morta!
   -Shhhh!
   Ela puxa o marido pelo braço para longe da ave. Em seguida, sussurra com ele.
   -Olha para os olhinhos dela, amor! Você não vê? Ela tem uma alma que transcende tudo, e como nunca foi enterrada, ela está presa aqui!
   -O que?
   -Você não entende a morte como eu entendo!
   E assim os meses foram se passando. E quando não era a coruja na sala era o lagarto no quarto, o filhote de panda no banheiro... Esse último era o pior! Qual o clima que se tinha para tomar banho com um filhote de panda olhando para o seu pênis? (Era a sensação que ele tinha por causa da altura do bicho). E ela tomava banho conversando com esse Panda! Não, isso tinha que parar!
   Um dia, acabou por dar um ultimato! Eram os bichos mortos ou ele! Ela ficou extremamente magoada e os pais também, mas não cedeu! Se separam!
   Entretanto, na divisão dos bens ele resolveu ficar com a Águia. Ouviu de dizer que dava sorte. Quem sabe pelo menos no jogo do bicho.

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   Minhas desculpas pelo atraso com esse texto. Infelizmente não é todo dia que se tem um clima bom para produzir. Mas espero que tenham se divertido!

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