Pete e o desafio dos 15 dias - Pete #06


   Uma certa vez encontrei em uma revista uma lista de coisas que pais e cuidadores poderiam fazer para tirar um sorriso de suas crianças, mesmo em meio a correria do dia a dia, algo que chamaram de "O Desafio dos 15 dias". Em princípio, pensei em mostrar ao Maurício, mas, pensando melhor, como eu passava o dia com o Pete eu teria muito mais chances de fazer aquelas coisas com ele do que o Maurício, que, se muito, tinha os finais de semana.
   No começo deu certo, foi algo bastante simples:

Colocar um bilhete e um chocolate na lancheira dele.

   Foi exatamente o que fiz e deu muito certo, tirando que quando Pete voltou para casa e falou sobre isso percebi que, para minha frustração,
 ele achou que o bilhete era do pai. Bem, esse é o nosso Pete afinal. Então, no dia seguinte, fui para a próxima ideia. E o próximo desafio era:

Construa um castelo de lego com ele.

   Essa tinha um pequeno problema estrutural, que é o fato de que o Pete não tinha legos. Mas, aquela altura resolvi fazer uma concessão e comprar uma caixa grande de peças de legos e mais uma sacola com alguns personagens avulsos que ele gostava. Levei no apartamento no dia seguinte e entreguei quando voltou da escola. Ele simplesmente amou, me deu um abraço e logo foi abrir a caixa no tapete. Em dois minutos estávamos os dois sentados no chão e ele abria a caixa com ansiedade. Então sugeri o lance do castelo, afinal de contas, os personagens que comprei precisavam de um lugar para ficar. Ele se levanta e olha para mim:
   -Tio... Tem certeza?
   -O que?
   -Tem certeza de que quer fazer isso?
   -O que? Brincar com você? É claro que eu quero! Porque?
   -É que você é meio grande!
   -...
   Ok. Pete não estava acostumado a brincar com adultos em lugar nenhum então era estranho eu querer brincar com ele. Eu sei que mesmo assim eu deveria ter insistido naquilo, mas não tinha mais clima. Ele derrubou completamente minhas expectativas do pedestal. No dia seguinte, fui para a próxima ideia:

Diga sim para algo normalmente fora dos limites.

   Essa ia ser fácil. Não tinha um único dia que o Pete não pedia para fazer, ou tentava por conta própria algo que estava fora dos limites. Então, no dia seguinte eu mais uma vez resolvi tentar fazer o Pete sorrir. Quando voltava da escola, uma das coisas que sempre precisava pedir que ele fizesse é não pular na cama como se fosse um trampolim na hora de trocar o uniforme, porque ele sempre tinha essa ideia quando entrava no quarto. Dessa vez, eu deixei.
   -Pode?
   -Pode!
   -Mesmo? - Sorriu.
   -Sim!
   Não sei se era por tanto tempo sem fazer isso, mas resolveu pular com força. Não levou nem dois segundos até a gente ouvir o "crec" debaixo do colchão. Então, Pete começa a chorar, achando que quem se encrencou foi ele. Tive que tirar o dia para tentar consertar aquilo.
   A próxima idéia era:

Em um dia de chuva, deixe a criança pular nas poças de água na calçada.

   Por sorte tinha chovido a madrugada inteira no dia anterior, então levei o Pete para ir ao mercado comigo no dia seguinte, garantindo é claro que ele podia molhar sem problemas as calças que ele estava usando.
   -Pete, você está vendo aquelas poças ali na frente?
   -Sim, tio.
   -Choveu bastante ontem, né?
   -É.
   -Você quer brincar lá?
   -Eu posso? - Se empolgando.
   -Só hoje, você pode!
   Ele foi correndo sem pensar duas vezes e pulou na água. Eu tranqüilo, porque dessa vez não tinha como ele quebrar o concreto abaixo do chão pulando ali. E começou bem. Só que o Pete é daquelas crianças que quando começam a se divertir não sabem quando parar. E nessas horas, é como se os ouvidos desligassem.
   -Pete, já chega, nós precisamos ir!
   Dois minutos depois.
   -Pete, a gente tem que voltar!
   Cinco minutos depois.
   -Pete, chega!
   Não teve jeito. Tive que ir até ele para tira-lo de lá. E por um acaso eu tinha me esquecido que as minhas calças não eram do tipo que não tinha problema molhar. O resultado é que voltamos para casa eu e ele com as calças mais molhadas do que se tivéssemos saltado no Niágara. Foi quando eu oficialmente desisti do desafio dos 15 dias. Cheguei a conclusão de que eu provavelmente ia acabar enfartando de raiva em no máximo uns dois dias e acabar me demitindo. Então era melhor eu parar com isso enquanto dava tempo e dar uma razão para mim mesmo sorrir, para variar!

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