Pete e o "Erótico" - Pete #11


   Eu sempre odiava tardes frias. Com todas as minhas forças. Só não mais que manhãs frias porque acordar cedo para trabalhar era uma tortura. Mas nas tardes geladas que andávamos tendo, não dava para fazer muitas coisas com o Pete e eu não conseguia ter muitas idéias além de se refugiar debaixo de cobertores no sofá e assistir um filme ou qualquer coisa na televisão. Não vou mentir, foi legal no primeiro dia, pipoca de microondas e animações. As vezes aquele era o melhor trabalho do mundo. Mas mesmo isso pode começar a ficar tedioso com o tempo.
   Numa dessas, voltei para sala e o Pete zapeava pelos canais de televisão com os dedinhos tremendo de frio sobre o controle até que passa por uma daquelas novelas mexicanas da tarde e não prestei atenção na frase, mas uma mulher bonita diz qualquer coisa sobre algo "erótico". Corri para TV para desligar o mais rápido que pude!
   -Ei! - Reclamou.
   -Coisa de adulto! Já falei o que acontece se você ver coisa de adulto!
   -Eu não vou conseguir dormir!
   -...
   -Nunca mais na vida! - Completou.
   -Isso mesmo! - Assenti. - Que bom que você aprendeu!
   -Mas, tio! O que é "erótico"?
   E eu achando que não ia ter que me preocupar com a fase das perguntinhas por um bom tempo. O negócio é que apesar do frio trava-lo debaixo das cobertas e ele então não se aproximar de mim como normalmente faria para me perguntar, com o nariz quase no meu umbigo, ainda assim sua carinha realmente era de quem queria saber. É aquele momento em que pais e cuidadores se sentem como se estivessem diante de soldados armados na frente do paredão aguardando a execução. Então, finalmente respondi somente com a verdade, como é o correto a se fazer.
   -É o que se diz quando uma coisa é feia!
   A verdade que ele tem condições de entender, obviamente.
   -Ah, bom.
   -Certo. - Liguei novamente a televisão e mudei para o youtube o mais rápido possível. Coloquei um desenho que ele gostava, enquanto me preparava mentalmente para convencê-lo a ir para o banho mais tarde.
   E eu sinceramente pensei que a coisa acabaria aí. Leviandade minha. As coisas nunca acabam onde começam com o Pete, e depois de dois anos e meios eu já deveria saber disso. No dia seguinte, depois que Maurício chegou no apartamento e eu voltei para casa, eles receberam uma irmã da Raquel que mora longe e vinha visita-los poucas vezes ao ano para jantar. E dessa vez, ela tinha feito uns tratamentos faciais, umas coisas que nem o Maurício soube explicar para parecer mais jovem.
   -O que acha da nova tia, Pedrinho? - Perguntou.
   -Achei muito erótica!
   Acho que o espanto geral só seria maior se ele tivesse mesmo falado a verdade. Bem, o negócio é que o Maurício e a Raquel ficaram se entreolhando, sem saber o que falar. Maurício o levou para o quarto, onde a tia não podia ouvi-los.
   -Pete, quem te ensinou essa palavra?
   E é claro que o geniosinho queimou minha imagem para eles. E no dia seguinte, quando cheguei pela manhã, Maurício veio imediatamente me interrogar.
   -Pare de ensinar palavras novas para o Pedrinho! Já descobrimos que você não é bom nisso!
   Como eu sabia que a tia em questão ia aparecer, entendi na hora o que tinha acontecido. Sabe aquela vontade de voar no pescoço da criança que a gente reza para nunca ter, mas sempre acaba tendo? Pois é.
   -Posso ensinar só mais uma palavra para ele?
   -O que vai ser dessa vez?
   -Bom senso!
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