Da Redação #03: PAIS, PAREM DE TERCEIRIZAR O SEU FRACASSO COMO EDUCADOR



   Eu sou professor e educador infantil, formado na Unesp, com experiencia no estado, mas de duzentas crianças no curriculo somando trabalhos, programas de estágio e universitários. E não, minha intenção não é defender o youtuber em si, mas algumas coisas precisam ser colocadas. Eu acredito que educação moral, educação de casa, de valores e modos de vida, aquela que cabe aos pais, ela só pode acontecer a partir do momento que fica estabelecido um laço de confiança entre o adulto e a criança, a partir do momento que aquele adulto se torna um norte.
   Um colega me contou, quando falávamos sobre a relação crianças x mídia e sobre como é impossível privar as crianças de toda a má influência do mundo (e daí a necessidade dos pais e a escola trabalharem o senso crítico) que certa vez o menino dele, aos três anos, viu uma cena de luta em um filme na TV enquanto meu colega, pai solteiro, estava ocupado.
   -Pai, tá batendo! - Ele apontou o dedinho para a TV.
   -É, mas é feio! Não pode!
   Esse para mim é o exemplo máximo do que se espera de uma criança quando existe uma relação saudável entre ela, os pais e o mundo. Em contrapartida, se uma criança vê algo por aí e apenas absorve, é porque não tem escolha, se não absorver.     E aí a gente entra no que há de nefasto e hipócrita no discurso dos pais contra o youtuber. Se o filho vê algo que está errado e simplesmente absorve, não encontra porto seguro para conversar com os pais, perguntar o que é aquilo ou se aquilo é certo sem medo de julgamentos direcionados a ele, então ESSES PAIS FRACASSARAM COMO EDUCADORES! E FRACASSARAM FEIO! Fracassaram o suficiente para que a voz de um youtuber que a criança vê por alguns minutos diários tenha mais peso e potencial formativo que a palavra dos pais que conviveram a vida toda com ela.
   E não, não estou dizendo que criança pode ver qualquer coisa se perguntar para o pai depois: Eu estou dizendo que nào tem como esconder o mundo por completo da criança, então o senso crítico tem que ser trabalhado dentro da confiança e da afetividade e a criança tem que ter espaço para falar do que vê!
A página do livro, palavras como "mata" ou "trepa", tem que ser conversadas, como pai eu tenho que dizer: "Essa página não é legal, esquece ela!" e, se há uma relação saudável desenvolvida, é isso que a criança vai fazer, não só no caso da página, mas de qualquer outra coisa na mesma temática.
   "Ah, mas ele vai ligar para a promoção do youtuber!" Se confiar no pai, vai consulta-lo primeiro. "Ah, mas o palavrão!" Se há espaço para o diálogo, vai consulta-lo antes de sair falando.
   Enfim, todas as críticas que foram feitas ao youtuber remetem no fim das contas a isso: NÃO ADIANTA RESPONSABILIZAR O YOUTUBER QUANDO O PAI É OMISSO! NÃO ADIANTA CULPAR O ARTISTA QUANDO NÃO EXISTE EM CASA O DIÁLOGO! NÃO ADIANTA QUERER QUE DA TELA PARA DENTRO HAJA RESPONSABILIDADE SOCIAL COM OS PEQUENOS SE DA TELA PARA FORA NÃO TEM!
   Amor, carinho, senso crítico e atenção são imprescindíveis para uma criança crescer mentalmente saudável! Quando há essas quatro coisas não há que se privar a criança de ver nada! Basta ensina-la a escolher! E quando começar o tema inadequado, vier a palavra inadequada, o conteúdo inadequado, ela vai conversar sobre (desde a capa ou o anuncio se for o caso), e depois, se for preciso, vai desligar a tela por si mesma! Porque aí, estaremos criando uma criança inteligente, e sem amarras no pensamento!
   E de novo, eu não estou defendendo o youtuber. Eu estou defendendo as crianças! Estou defendendo que os pais assumam suas responsabilidades, suas posições, parem de esbravejar que nem imbecis na internet, e olhem para as necessidades reais de suas crianças!
   Senso crítico a todos! Sejam os adultos que toda criança precisa e merece!

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