Cara de Pastel


   Eis que algumas semanas antes um dos meninos da turma de cinco anos inventou de me chamar de "Cara de Pastel". Não sei exatamente de onde ele tirou isso, se é porque rimava com o seu nome, ou o que. Realmente eu não sei ao certo. E isso se espalhou a partir dele no dia seguinte para a turma dele. Era eu chegar:
   -Tio Maciel, cara de pastel!
   -Cala a boca aí, cara de kibe!
   Mentira, nunca tive coragem de responder isso! Primeiro porque não cabe para um educador na creche se rebaixar ao nível da provocação da criança, segundo porque ele era moreninho então claramente soaria racista, coisa que abomino, e por fim, eu não fui rápido o suficiente para pensar nessa resposta na hora!
   E quando você acha que não vai piorar, ah, piora! Eis que aconteceu que realmente serviram mini-pastéis de presunto e queijo na creche na hora da janta algum tempo depois para eles. E é claro, o filho da mãe não perdeu tempo ao passar por mim no corredor.
   -Tio, hoje eu comi você! - Sorriu.
   Aquele silêncio constrangedor.
   É claro que eles não tem essa maldade, mas ainda assim não é o tipo de coisa que você quer ouvir de um ser do sexo masculino, ainda mais uma criança! Nem sei quando foi que eu fiquei mais sem graça com uma criança nessa profissão do que nesse dia! Aí comecei a cortar a brincadeira, porque foi longe demais!
   E agora vou lá afogar minhas mágoas. Comendo pastel.

   Atualização 11/11/2022: Serviram pastel de novo e o desalmado chamou mais amiguinhos para falar que me comeram! Agora estou cogitando ir a prefeitura e pedir aumento por insalubridade emocional!

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