Reencontro Complicado


   Andava por aí despreocupado, até que encontra uma moça caminhando pelo lado oposto da calçada, em sua direção. Uma moça cujo corpo e feições o interessam. Era extremamente bonita, loira, exatamente o que sempre sonhara. E numa rua semi deserta as três da tarde, com o som do vento aos ouvidos quebrado apenas por um ou outro carro passando, uma ou outra pessoa caminhando em certo silêncio, tinha que se arriscar. Simulou um esbarrão acidental, fazendo a moça derrubar os livros que carregava na calçada.
   -Ah, me desculpe! - Ajudando a moça a pegar os livros.
   -Tudo bem! - Ela responde. - Acontece! Desculpe, nos conhecemos?
   -Bem, eu... Eu não tenho certeza!
   -Olha, você é muito familiar! - Responde, sorrindo. O sorriso mais belo que ele já vira. - Não nos vimos em algum lugar?
   Olhando mais de perto ela também era familiar. Talvez até familiar demais. Mas tinha que saber.
   -Nós... Andamos juntos por algum tempo, não é?
   -Pode ser! - Responde a loira, passando os dedos nos cabelos loiros numa demonstração até bastante clara de ansiedade.
   -Talvez... Tivéssemos sido da mesma turma na escola.
   -Quando eramos crianças, você diz?
   -Acho que sim!
   Eles se olham em silêncio por um momento. No rosto dele, aquela situação se revela um grande conflito. Precisa pensar em algo para aquela conversa avançar. Quanto a ela, já sabe com certeza que o conheceu antes.
   -É claro, você era da turma! - Ele diz, de repente, como que se lembrando. - Volta e meia a gente saia da escola no ensino médio e ia zoar no shopping que tinha lá perto! Quer dizer, eu, a Clarissa, o Marcos, O Lucas, o Rafael e a Carla! Você era uma de nós, não é?
   -Isso! E você estava lá com a gente todas as vezes!
   -Sim!
   -Nossa, que bom te ver de novo!
   Se beijam, felizes de se encontrarem. Combinam de sair qualquer dia. E então, cada um retoma seu caminho bem satisfeito.
   No fim da rua, ele encontra o Lucas, outro amigo dos tempos áureos, mas que, no caso, permaneceu por perto com o passar dos anos, e observava a tudo de longe.
   -Qual é, cara! O que foi aquilo? - Reclama.
   -Você viu que coisa mais linda, cara? Devia estar feliz por mim! Eu tirei na sorte, mesmo!
   -Cara, aquela loira... É o Rafael!
   -Eu sei, reconheci pelos olhos, mas guarda para você!
   -Porque?
   -Porque no fim das contas eu não era gay! Ele é que era mulher!

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   Antes que me interpretem mal, a graça desse texto é justamente a ideia de como o homofóbico permanece hétero até o último segundo. Mais nada além disso.

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