Morte #03: O Avião


   Depois de uma demorada e violenta turbulência, o avião simplesmente para no ar. Todos ficam atônitos. São pelo menos quarenta pessoas de todas as idades e tipos naquele vôo. A maioria extremamente assustada. Ouve-se um grande burburinho com frases como:
   -O que está acontecendo?
   -Será que a gente vai viver?
   -Depende de onde o avião caiu!
   -Será que a gente pode tentar sair?
   E é no meio de tudo que um ser alto, vestido de preto e com uma lança na mão esquelética aparece caminhando tranquilamente por entre os bancos dos passageiros, em silêncio passo a passo até chegar a saída da cabine de comando, onde todos podiam vê-lo.
   -Senhoras e senhores, muito boa noite! Venho informa-los de que o piloto desta empresinha vagabunda de aviação que vocês contrataram não aguentou a jornada e dormiu sobre os controles de bordo! E aparentemente, o co-piloto é só um estagiário! Olha só que piada! - Ri a morte, sem a menor dó. - O que tenho a informá-los é que vocês vão todos morrer neste exato momento!
   -O que? - Diz um.
   -Mas que piada é essa? - Diz o outro.
   -Mas e meu filho? - Diz uma.
   -Batata! - Diz a criança.
   -Mas é sempre a mesma coisa. - Lamenta. - Olha só, vocês vão morrer, tá legal? De qualquer jeito! Se eu esperar mais um pouquinho para levar vocês provavelmente ainda vão sentir a dor laucinante de suas peles tentando sair de seus corpos por causa da velocidade do avião rumo ao chão, e é claro, um calor desgraçado queimando vocês de fora para dentro, e eu não preciso explicar que isso aqui está despressurizando, certo? Pois é, vamos começar os trabalhos? Mulheres e crianças primeiro! Cadê o menino da batata? Ah, sim, está ali! - Sorri.
   -Meu filho, não, sua vadia! - Reclama a mulher, puxando a criança para seu colo.
   -Batata! - Sorri o garoto.
   -Se seu filho sobrevivesse, ia sofrer bullying na escola, minha senhora! Vamos cooperar, por favor?
   -M-mas eu nem fiz nada da minha vida! - Reclama outra mulher. - Eu tinha planos com meu marido!
   -O Oswaldo aí do lado? Ele ia te largar e virar travesti na Europa, mulher!
   -O-o que? - Ela olha para o marido.
   -E-eu ia te contar, amor!
   -E os nossos filhos, Oswaldo?
   -Não importa os fedelhos! - Reclama a morte. - Vocês dois vão morrer, e o desgraçado do seu mais velho que está nesse momento empestiando o banheiro também! Por sinal aquilo tá mais perigoso que Chernobyl agora, então agradeça por morrer senão alguém ia matar vocês!
   -Eu só quero esclarecer que a culpa é do seu irmão! - Explica Oswaldo.
   -Bela hora para dividir as culpas! Ok, podemos partir, senhoras e senhores?
   Levanta um barbudo bem lá atrás e abre a camisa, mostrando as bananas de dinamite que carregava no peito.
   -Se você levar alguém eu explodo esse avião! - Berra.
   -Tá de brincadeira, né, Samir? - Diz a Morte.
   -Ah... Bem, eu atrasei um pouquinho, mas... Ainda vou ter minhas setenta e duas virgens, né?
   -...
   Foi quando a Morte perdeu a paciência e levou o avião inteiro num único golpe de foice.
   -Vou sentir falta do menino da batata. - Ponderou, olhando o avião vazio em seguida. - Ele era simpático.
.

Postar um comentário

0 Comentários