Pete e o Guaraná - Pete #12


   A melhor palavra que se poderia usar a respeito do Pete sem dúvida era "imprevisível", e naquele dia não foi diferente. Ele já tinha sete anos, e estava bem maior e mais esperto do que quando comecei a trabalhar com a família dele. Maurício me advertiu quando cheguei pela manhã de uma sexta feira:
   -Essa noite a mãe da Raquel esta vindo para passar o fim de semana, então preciso que mantenha a casa um brinco e não deixe o Pete sujar nada!
   -Conta como hora extra?
   -Não, seu pagamento extra é o sorriso da criança! - Brincou. - To indo que eu estou atrasado! Até mais tarde!
   Passou por mim rápido com um raio e desceu as escadas. Então, entrei no apartamento já dando bom dia ao Pete.
   Aquele dia foi longo. Eu costumava limpar as coisas enquanto Pete estava na escolinha, mas naquele dia tive de fazer o dobro. Limpei o chão, lavei louça, tirei pó dos móveis, fiz tudo o que era possível fazer, e até algumas coisas que não eram. Fui buscar o Pete na escolinha nesse dia com minhas últimas forças. Mas a casa estava tão limpa e cheirando a produtos de limpeza que exigi que ele tirasse os sapatos para entrar.
   -Mas tem lava! - Reclamou.
   -Então pula! - Entrei na brincadeira, dando graças a Deus por ele nem pensar em pisar no meu chão limpinho!
   Ele pulou na minha direção e eu o peguei, o levando até o sofá no colo, o que já não fazia a pelo menos um ano, e ligando um desenho para ele.
   -O tio vai tomar certas liberdades que não devia e vai dormir um pouco para descansar, tá bom? Me promete que não vai sujar nada?
   -Prometo! - Sorriu.
   Despenquei na cama do Pete. Quando acordei, duas horas depois, a grande surpresa. Ele realmente não fez nada de errado. A casa continuava limpa, e ele ainda estava no sofá. E o chão do apartamento finalmente estava totalmente seco. Estávamos prontos para receber a avó do Pete. E ela era exigentíssima com a Raquel sobre limpeza, uma tremenda caxias.
   -Você não fez nada? - Não aguentei não perguntar.
   -Não!
   -Nada? Você tem certeza disso?
   -Só fiquei vendo desenho, tio!
   Foi quando eu notei. A televisão estava no canal pago de desenhos. Isso ajudava a explicar. Por desencargo de consciência verifiquei a programação do canal, e realmente, tinha acabado de terminar um filme desses da Disney. Explicava mais ainda. Nem o Pete resiste a Disney. Ou assim eu pensava.
   -Tudo tranquilo, Maurício! Sim, eu já olhei tudo, não tem nada bagunçado! E a casa está em perfeito estado como pediu!
   -Meu deus, você é incrível! A Raquel vai chegar daqui a pouco do aeroporto com a mãe dela e vai ficar de queixo caído! - Elogiou. - Obrigado! Merece um prêmio! Pedrinho, sorria para o tio!
   Ele obedeceu.
   -Que engraçadinho, Maurício, vou rir eternamente! - Zombei. - Bom fim de semana com a sogra! Tchau, Pete!
   -Tchau, tio!
   Desci as escadas e fui para casa.
   Na segunda feira ao chegar, encontrei o Maurício inconsolável no sofá, com Pete ao lado, me esperando.
   -Foi horrível. - Me chamou pelo nome.
   -O que aconteceu?
   -Longa história, mas a Raquel passou a noite de sábado para domingo no hospital com a mãe dela!
   Não existe momento de paz com o Pete. Não existe. Quando ele não ainda não deu trabalho, ele armou a cena para algo acontecer. No mais alto de sua boa vontade, quando deu o comercial do filme o Pete veio a cozinha do apartamento e pegou guaraná na geladeira. Notou que o filtro de água estava vazio e a avó bebe muita água o tempo todo por ser diabética. Então ele carinhosamente encheu o filtro para a avó. Com guaraná.
   -Eu achei que ela ia gostar! - Justificou.
   -Ele está de castigo hoje! - Respondeu o Maurício, se levantando. - A avó dele quase morreu!
   Eu não sabia o que dizer. Só sentir. Pete era simplesmente insuperável. Eu me lembraria de nunca mais dormir no expediente. Pelo resto da minha vida.
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