Pete e o Remédio - Pete #13


   Uma vez aconteceu uma coisa que quase me custou o emprego. Não levei o Pete na escolinha nesse dia porque acabou engripando por brincar em poças depois da chuva do dia anterior. Não que eu tenha deixado, mas se você leu as histórias até aqui, você conhece o Pete, você sabe de que tipo de criança estamos falando aqui!
   -Viu o que aconteceu? Você teimou em não obedecer, agora tem que ficar na cama!
   -Mas foi legal!
   -É, mas olha só, agora você não pode sair da cama para brincar!
   Ele baixou os olhos com uma expressão triste. Por mais que ele tivesse feito por merecer, realmente dava pena vê-lo assim. Então comecei a brincar com ele para passarmos o tempo. "Peguei" o nariz dele!.
   -Ei!
   -Agora eu tenho seu nariz!
   -Então você também vai ficar doente!
   Toquei o rosto dele, "devolvendo".
   -Eu não fiquei brincando em poças de água, então eu não preciso ficar doente! - Me gabei.
   Depois fomos para "eu vejo com os meus olhinhos" com os objetos do quarto. Ele tinha muitos brinquedos de muitas cores ali, então passamos um bom tempo brincando entre uma espirrada e outra dele, das quais eu tentava me esquivar quando podia.
   -Tem que por a mão na boca e no nariz, lembra?
   -Eu esqueci!
   -Tudo bem, vamos ver na próxima! Eu vou lá buscar o seu remédio!
   Deixei ele no quarto e saí para o banheiro do apartamento. Lá, havia uma caixinha de remédios dentro do armarinho do banheiro, atrás do espelho. Peguei o remédio anti-gripal do Pete e fui para cozinha. Três dedos de água em um copo, quarenta gotas. Assim, ele ia sarar logo. Se melhorasse até a noite, ia dizer ao Maurício que me deixasse leva-lo a escolinha normalmente amanhã. Mas era questão de termos muita sorte.
   Voltei para o quarto e lhe dei o copo na mão.
   -Vai ser ruim, não é?
   -É remédio, não um doce! Tem que ser ruim, mesmo! - Ri. - O importante é que se você tomar agora, amanhã pode ser que já... Consiga sair para brincar!
   Eu ia falar sobre a escolinha, mas conhecendo o Pete, isso o inclinaria muito mais a não tomar o remédio. Pois bem, ele tomou fazendo cara feia como era esperado. Acho que ninguém pode julga-lo, o remédio era ruim mesmo. E o pior é que eu não podia dar água para ele para tirar o gosto, senão, diziam, cortaria o efeito, e nem ele queria isso!
   Então, ele bocejou.
   -Bom, eu vou lá lavar a louça e dar um jeito no apartamento! Olha, quando seu pai me avisou que estava doente, eu trouxe um livro para você!
   Peguei em cima da estante e dei para ele. Um livro sobre dinossauros daqueles que, além do texto, quando você abria a página as figuras de desdobravam e levantavam. Achei que fosse o suficiente para distraí-lo, visto que não podia levar a TV para o quarto dele.
   Até que eu voltasse para o quarto dele, meia hora depois, ele estava dormindo em sono profundo. chegava a ser até fofo de ver. E eu não gosto de usar muito essa palavra, mas, realmente era o caso.
   Bem, foi assim que o entreguei ao Maurício quando ele chegou, ainda dormindo como um anjo depois de mais de uma hora e pouco.
   O telefone começou a tocar muito insistentemente, quando eu já estava em casa. Era o Maurício.
   -Aconteceu alguma coisa hoje cedo? - Perguntou, com certo desespero na voz.
   -Eu não sei! O que aconteceu?
   -O Pete simplesmente não quer acordar! Já sacudimos ele e fizemos tudo! Ele já está dormindo há quantas horas?
   -Umas quatro ou cinco até agora!
   -O que você deu para ele?
   -Só o remédio que você mandou!
   -Qual? - Me chamou pelo nome.
   -Anh, eu não sei, você disse que era o terceiro da esquerda na última prateleira!
   -Da direita! - Me chamou pelo nome. - Você deu quarenta gotas do meu remédio para dormir! Eu tomo três quando tenho insônia!
   Eu não sei quanto tempo levei para me recompor. Era muito surreal que uma coisa desse tamanho estivesse acontecendo, e não fosse culpa do Pete!
   -O que eu faço agora? - Me perguntou.
   -Deixa dormir! Não adianta forçar ele a acordar com essa dose! Ele vai ficar bem, tá tudo bem! E não ponha nada na boca dele, que desacordado ele pode engasgar! E veja pelo lado bom: Ele não vai te dar trabalho essa noite! - Brinquei. - Ok, não era hora para piadas, desculpe!
   O remédio era realmente forte. Pete dormiu pelo dia seguinte inteiro e acordou no outro, no meio da tarde, totalizando 42 horas de sono ininterrupto. A sorte é que a Raquel, passando uns dias com a mãe, nunca soube disso. E o Maurício não era idiota de contar: Ela ia culpa-lo por deixar os remédios dele junto com os do menino. E se me demitisse, seria obrigado a contar a ela o porque. Eu dei uma sorte sem tamanho nesse dia!
   O que tenho a dizer sobre isso: Eu amo o Pete, mas foram as quarenta e seis horas mais tranquilas da minha vida. Foi errado e foi um acidente. Eu não faria e nem jamais farei de novo, mas não posso reclamar!

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