Pete e Pequenos Americanos: Especial de Natal - FINAL


   Tinha chegado o último dia antes do Natal. No dia seguinte, Pete iria embora com sua família, então eu queria aproveitar ao máximo aquele dia. Acordei cedo pensando nisso, fui para a cozinha para comer alguma coisa. E, nesse momento, o senhor Cooper tomava silenciosamente o seu próprio café da manhã, bacon e ovos, como sempre.
   -Bom dia, senhor Cooper!
   -Bom dia! Não vai fazer o café da manhã para os meninos?
   -Não preciso! Vou levá-los daqui a pouco para o Breakfast with Santa no Shopping! - Literalmente, um café da manhã com o papai noel em uma mesa enorme, com direito a levar doces da casinha do papai noel para casa e conversar com ele. Algo simples e barato, mas que as crianças amavam.
   -Ollie me falou do seu garotinho! É ele que vai levar meus meninos para as drogas?
   -O-o que?
   -Garoto brasileiro, não é? - Riu discretamente. - Eu estou só brincando com você, ok? Só brincando!
   -Engraçado, senhor Cooper! - Disse, me esforçando para parecer que realmente era.
   Ele tinha o admirável talento de me fazer sentir falta das piadas da senhora Cooper. Fui pegar um copo de leite na geladeira em silêncio. Logo o senhor Cooper saiu. Fui acordar os três. Com exceção de um jantar de família durante a noite com outros parentes dos Cooper, e de eu ter de devolver o Pete para os pais dele ao cair da tarde no hotel e nos despedirmos, nós ainda tínhamos o dia inteiro para um último passeio. Dez minutos depois, os três estavam comigo a mesa. De um lado, Noah e Ollie, e do outro, Pete e eu. Naquela altura, Pete aprendeu o básico da língua, pelo menos o que não conhecia, para pelo menos entender alguma coisa do que os meninos diziam.
   -Aqui estão suas sacolas para pegar os doces! Ollie, você também, certo?
   -Isso é coisa de criança!
   -É por isso que vai fazer! Vai lamentar não poder mais fazer isso quando for adulto! Crescer não é nada legal, confiem em mim! Estão todos vestidos?
   -Eu... Pego... Mais doce... Você! - Pete tentou dizer a Noah, em inglês.
   -Muito bom, Pete! Quase acertou! O correto é: "I will get more candies than you!".
   -I'll get more candies than you! - Disse ele.
   -Não vai conseguir! Eu já fui lá e sei onde estão todos! - Noah respondeu, em inglês.
   -Não vai ser fácil, Pete! Ele sabe onde todos ficam! - Traduzi.
   -Eu vou roubar a sacola dele depois! - Sorriu, com ar de superioridade.

   * * *
   O lugar era enorme, e tinha pelo menos umas quarenta crianças com seus pais na mesa com o papai noel e ele conversava com todas elas, dizia coisas aleatórias sobre a magia do natal, perguntava a uma ou outra o que iam querer e tudo mais. A mesa era bastante farta, e era o mínimo que eu esperava pelo que pagamos pelas entradas. Tinha panquecas, peru assado, brioches, alguns assados, sucos de laranja e muitas outras coisas boas. Pete comia como se aquilo fosse uma competição.
   -Vai devagar, ou vai engasgar! - Avisei.
   -Não posso! Não sei quando vou conseguir voltar para comer mais!
   O problema de Noah era o oposto. Comia devagar até demais. Mas se via que gostava de tudo o que o Shopping tinha preparado, ao mesmo tempo em que prestava atenção nas coisas que o papai noel falava e nas histórias. Ele falava sobre os lugares que visitou, as crianças diferentes para quem já entregou presentes, contava sobre a fábrica no pólo norte, e muitas coisas mais. Realmente deu para comer até quase estourar. E isso explicava porque davam sacolas para as crianças pegarem os doces depois: Qualquer sobremesa depois de comer tanto era suicídio!
   E então, um duende se aproximou do papai noel e disse algo a ele, que em seguida, se levantou e anunciou.
   -Hora de ir pegar os doces!
   Então, deixou a mesa, sendo seguido pelas crianças e seus pais e acompanhantes até uma outra sala. E nós fomos atrás junto com eles. Pete pegou sua sacola e Noah fez o mesmo.
   -Ollie! - Chamei.
   -Não, eu vou passar vergonha no meio das crianças!
   -Mas vai se arrepender quando tiver a minha idade se não passar! Vamos, obedeça seu au pair!
   -Você é au pair dele! - Protestou.
   -Vai! - Sorri, apontando para a casinha e o tocando de leve no ombro.
   E a casinha do papai noel realmente era uma grande casa decorada com coisas de natal devidamente bem presas por razões óbvias e doces em tudo quando era lugar, presos nas árvores de natal, prateleiras, até no teto para as crianças mais altas e atrás das coisas. E eu fiquei assistindo de longe. Ollie tinha de aproveitar, porque era o último ano em que poderia fazer isso. E na verdade, isso era só uma desculpa para permitir que os irmãos mais velhos acompanhassem os menores, e era isso que eu queria criar: Lembranças felizes entre os dois. Porque eu estava sentindo o que era se separar de alguém querido.
   Enquanto isso, dentro da casinha, o Pete teve uma idéia. Em vez de pegar os doces das prateleiras, ele apenas se aproximava por trás das crianças e quando elas se esticavam para pegar algum que estava longe, ele enchia as duas mãos com os doces da sacola da criança e botava na sua rapidamente. Pelo menos estava sendo legal de não tirar tudo, e depois, ia fazer o mesmo com a próxima. Já poderia até entender bem se eu ensinasse sobre a política de impostos do governo. Enquanto isso, Noah os pegava direitinho. Então, Pete passou atrás dele.
   -I fi-ni-shed! - Disse ele, dizendo que já acabou!
   -O que? Espera, mas eu não consegui nem a metade!
   -"Você quer saber faz"? - Tentou dizer.
   -Se eu quero saber como você faz? É claro que sim!
   Então, Pete pegou sua sacola e fez uma vez.
   -Mas, isso é errado!
   -"Ninguém diz nada!" - Tentou dizer que ninguém disse nada a respeito que era errado antes.
   -Então, eu posso fazer, certo?
   -Vai! - Pete encorajou.
   E ele foi. Conseguiu roubar o primeiro, pegar o segundo, mas no terceiro tivemos um problema. Foi quando eu vi um burburinho estranho que começou a aumentar de tamanho e chamar a atenção. E quando a gente viu, eu, os seguranças e o papai noel, do jeito mais incrédulo do mundo todas as crianças esqueceram completamente dos doces espalhados pela casinha, que naquele momento já começava a rarear e começaram a roubar doces das sacolas umas das outras, e quando uma via, tentava roubar da sacola da que lhe roubou enquanto ela roubava um terceiro. E eu não sei se o que surpreendia mais, se é como o Pete começou um movimento social daqueles pelo "jeitinho brasileiro" em poucos minutos, ou se é o fato de que aquilo não terminou em choro e gritaria. E, achei por bem tirar os três de lá antes que começasse. Chamei os dois e saímos de lá como se nada tivesse acontecido. Já na rua, em direção ao carro, perguntei a eles o que foi aquilo, e Noah entregou.
   -Ele disse que era mais rápido se pegar das sacolas dos outros!
   -Pete, isso não foi legal! Tinha doces para todo mundo lá! - Repreendi, em português, enquanto entrávamos no carro, por sinal, emprestado pelo senhor Cooper. - Que nunca mais aconteça!
   -Mas deu certo! - Se gabou.
   -E você, Ollie? - Olhei para ele, do meu lado, no banco do carona.
   Ele levantou a sacola dele, também cheia.
   -O que foi? Eram doces, meu ponto fraco! - Deu de ombros. - Mas ainda assim passei vergonha!
   -Para de reclamar! - Ri. - Eu sei que foi divertido!
   -Tá, foi! - Admite, também rindo em seguida.

   * * *
   Poucas vezes na minha vida me lembro de querer tanto que o tempo parasse. Estávamos Pete e eu no hall de entrada do hotel, sentados em um sofá que havia por lá e Pete comia um lanche que comprei para ele numa lanchonete ali perto enquanto esperávamos que Raquel e Maurício aparecessem. E ele comia de maneira bastante despreocupada.
   -Pete, você... Está bem com isso?
   -O que?
   -Acabou, né? Agora você vai passar a ceia de natal com seus pais e amanhã vocês voltam para o Brasil e a gente vai ficar um tempão sem se ver! Foi rápido, né?
   -Será que se você conversar eles não ficam até o ano novo?
   -Não, Pete, não tem como! E além disso, eu preciso realmente continuar cuidando dos meninos e seus pais também tem as coisas deles para fazer! Isso não é sobre nós dois ou sobre o que a gente pensa, sabe? É que simplesmente as coisas funcionam assim!
   -A gente não tem dinheiro para vir para cá sempre! É muito longe! - Lamentou. Eu conhecia essa carinha. Realmente estava triste. - Quer dizer, eu só vou ver você de novo quando eu estiver grande!
   -E eu vou estar velhinho! - Brinquei. - Mas, posso te dizer uma coisa que a vida me ensinou?
   -O que?
   -Você... Pode escolher ficar triste porque acabou, ou pode ficar feliz porque aconteceu, e foi inesquecível! Porque Deus nos deu esse momento maravilhoso no tempo para a gente recordar de tudo! E foi incrível, não foi?
   -Foi... Porque você estava lá!
   Não tive, naquele momento, emocional para fazer qualquer outra coisa que não fosse mudar de sofá, me sentar ao lado de Pete e o abraçá-lo com o máximo de força que tinha, e ele fez o mesmo. E cada lágrima ali se traduzia em toda a felicidade pelo que houve e pelo que passamos naquele natal, mas, ao mesmo tempo, também por toda alegria que aqueles quatro anos proporcionaram e por ver que, pelo menos pelos próximos anos, o Pete não vai mudar. Ele vai continuar sendo o garoto sapeca, hiperativo, espertinho e divertido que conheci. E principalmente, o ideal de filho que eu realmente gostaria para o futuro, se, quem sabe, eu conhecer alguém. Acho que aquele momento deixava as coisas claras. Pete era meu filho zero. Abri os olhos devagar, ainda com ele em meus braços. Olhando pelos vidros, na rua, Maurício e Raquel desciam do carro após estacionar e começavam a caminhar até nós. Então o soltei. Ele também lacrimejava. Limpei suas lágrimas com os dedos.
   -Não vai acabar enquanto a gente tiver um o outro aqui dentro, tá bom?
   -Tá bom!
   -Eu te amo, Pete! Como o filho maravilhoso que nunca tive! - Sussurrei. Eles atravessavam a porta e se aproximaram de nós.
   -Eu também te amo, tio! Como o meu outro pai! - Sussurrou de volta. - E esse foi o melhor natal do mundo!

   FIM

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  Como de praxe, algumas fotos de  alguns dos "Breakfasts with Santa" que existem em Nova Iorque:



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