Morte #11: Paulo Gustavo


   Já eram mais de nove horas da noite. Ele estava sozinho no quarto após as enfermeiras verificarem seu estado grave por conta da evolução da covid 19. Um ser alto com vestes escuras e uma lança na mão se materializa no ar. Ele pode sentir o ar frio que o precedia e o tempo parando para tudo em volta.
   -Se essa espelunca fosse um hotel seria uma estrela sendo bem generoso! Nem para alguém me trazer um café pelo menos! - Disse sua voz aguda afetada pela qual era conhecido.
   -Pessoas em coma não podem beber café! E as que se vão muito menos!
   Ele olha para o ser de cima a baixo sem entender muito bem o que estava a sua frente.
   -Halloween não é, primeiro de abril também não! É pegadinha? É sério, isso tem cara de Silvio Santos! Eu estou doente...
   -Já entendi porque dona Hermínia era tão espontânea, misericórdia! Pois bem, eu sou a morte! Aquela que todos temem, ninguém deseja, mas aparece para todos! Que nem o SPC!
   -E porque eu devia acreditar nisso?
   -Não precisa acreditar! Não faz diferença! A verdade não depende do olhar do ser humano sobre ela para se manifestar, e eu sou a verdade final da vida!
   -Você deve ter uns 14 anos, né? Tá achando engraçado brincar de morte aqui e assustar os outros, né? Adolescente acha que nada de ruim vai acontecer com eles, que são imortais!
   -Sério? Você também vai me dar esse trabalho?
   -Eu vou é dar uma bofetada na sua cara! Sai daqui que hoje eu não tô bom!
   -...
   -O que foi?
   -Assim, você meio que tá ameaçando a morte! Olha, já vi que não tá acreditando! - Puxa o capuz mostrando o crânio vazio de caveira que havia ali. - E agora?
   -Tu fez uma maquiagem hollywoodiana dessas só para fazer pegadinha com gente doente em hospital? Isso é coisa de pai, né? Porque a gente sabe que as coisas ruins nunca vem do lado de mãe!
   -...
   -Que vontade de dar nessa sua cara! - Mostra a mão.
   -Tá, eu cansei! Era mais engraçado na TV quando era com os outros, eu adimito! É uma pena ter que levar você!
   -Vai me levar para lugar nenhum que eu sou casado e muito bem casado, seu...
   A morte o interrompe com um golpe espiritual de foice, o fazendo voltar a se deitar na cama e finalmente morrer. O tempo voltou a correr e ouviu-se o som agudo da máquina mostrando a parada cardíaca.
   -Depois dessa vou ver aquele seu marido dermatologista! Estou precisando!

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   A série Morte é uma forma de homenagem aos artistas e famosos queridos que já se foram e é assim que devem ser entendida: Uma forma de celebrar as pessoas incríveis que marcaram, de uma forma ou de outra, e claro, como tudo o que se produz sobre uma pessoa após sua partida, de mantê-las vivas em nossos corações! Vá em paz, Paulo Gustavo!

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