Morte #12: Sérgio Mamberti


   Madrugada. Altas horas da noite. Ele estava internado a dias em um hospital da Prevent Senior. Aos 82 anos de idade, todo cuidado com a saúde é pouco. Nessa hora, o tempo parou em volta, o ventilador de teto parou do nada, a cortina também parou de tremular. Tudo parou.
   A porta se abre e entra um ser alto, vestido com um sobretudo preto e uma foice na mão. Um frio o persegue.
   -Parece que agora vai ficar mais fácil para o dr. Abobrinha dominar o castelo!
   -RAIOS E TROVÕES! - Berrou. Junto com a voz dele, vários raios caíram por perto do lado em volta do hospital. - Quem é você?
   -Calma, Eugênio! - Riu-se. - Você não tem mais idade para isso! Veja bem, acho que dá para ver, mas, eu sou aquela que todos temem, ninguém espera, mas sempre vem! Eu sou a morte!
   -Sabia que viria. Só não imaginei que seria de uma maneira tão... Direta!
   -O senhor dedicou sua vida toda a arte, desde a década de sessenta quanto começou no teatro, inclusive políticamente, sempre defendendo cultura e arte como uma grande arma de transformação social, sobretudo com as camadas mais pobres da sociedade! Deve ser duro ter de ir embora em tempos em que é super constatável que as pessoas não aprenderam nada!
   -Você virá buscar qualquer pessoa, mas nunca poderá tirar desse mundo a arte, a cultura, as ideias e os valores! Porque essas são coisas que se sobrepõem a condição humana! E enquanto a arte for sobrevivente e houverem pessoas brigando por ela e por essa sociedade doente, não vai ter sido em vão! Enquanto nada calar a arte, nada cala o desejo de viver da população, e mesmo depois da vida, nada cala o meu desejo de viver!
   -Não posso garantir, nunca passei dos portões. Mas talvez reencontre Ednardo!
   -Ah, Ed! Foram muito duros esses anos sem ele! A força e a fé que me deu em todos aqueles anos e o carinho que sempre teve para com os meninos, acredite, estarei feliz em revê-lo, e Vivian também! Ed e a Arte, junto de meus filhos, foram minhas maiores razões para viver!
   -Alias, talvez reencontre a Odete!
   -Só se eu pegar a barca do inferno! - Riu-se.
   Assim, sem dizer mais nada naquele clima, o ser levanta a foice e desfere o golpe final. O relógio na parede volta a correr, seguido dos bips da máquina que lia seus batimentos cardíacos. Logo depois, enfermeiros estavam ali confirmando o falecimento. Mas não importa. Ele morreu rindo. Morreu feliz!

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   A série da morte é uma forma de homenagear os artistas e grandes nomes da música, rádio, TV, Cinema e diversas áreas que tanto nos emocionaram e fizeram rir e relembrar quem foram essas pessoas!

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