Pete e Pequenos Americanos: Especial de Natal - 3 de 6


   -M-mas, porque você está aqui?
   -Eu me perdi da mamãe enquanto patinava! - Em seguida, aproximou os lábios do meu ouvido. - Tem muito gringo aqui, eu não consigo pedir ajuda para ninguém!
   Certo, era o Pete. Não podia jamais vir de qualquer outra criança uma pérola como aquela. Mas então, me lembrei do Noah. Tinha prometido a ele que o ensinaria a patinar, mas não podia deixar o Pete abandonado na pista de gelo há quilômetros do apartamento em outro país tão distante. Me virei para ele. Tarde demais: Ele também tinha se perdido no meio do povo tentando andar sem mim.
   -Ah, meu Deus! - Exclamei.
   Agora meu emprego como Au Pair estava em cheque também. Voltei para o Pete. Ainda me olhava com curiosidade.
   -Eu também tenho saudade, tá? Mas olha, eu estou trabalhando aqui agora com dois outros meninos!
   -Você me trocou?
   -Não, Pete! Eu não podia mais cuidar de você, e olha, um dia você vai ser grandinho e vai entender, mas a vida passou para nós dois, ta bom? Olha, vamos fazer um trato: Você me ajuda a procurar aqui na pista de gelo o meu menino e eu te ajudo a encontrar os seus pais, ta bom?
   -Você... Gosta mais de cuidar dele, não é?
   Tornou-se muito mais difícil encará-lo depois daquela pergunta. Eu estava feliz demais trabalhando no apartamento. Até que acontecesse aquele incidente, jamais tinha sequer imaginado a possibilidade de trocar de emprego, ainda mais indo para tão longe de tudo como estava. Eu não tinha uma resposta para aquilo, pelo menos não uma que de fato satisfizesse a verdade. Eu simplesmente não podia escolher.
   -Eu amo você, mas eu também amo meus meninos aqui, tá bom? É tudo que eu consigo dizer! Vem, vamos procurar por eles!
   Peguei e comecei a andar devagar com ele pela pista de gelo mais ou menos como estava fazendo com o Noah até então, embrenhando nós dois entre as pessoas patinando como se eu realmente soubesse para onde estava indo. Mas não tinha mais rumo nem por dentro. Não tinha mais a menor idéia de como e de o que pensar sobre tudo isso. E simplesmente sentir de novo, depois de tanto tempo, a mãozinha quente dele na minha já era algo que fazia lembranças vagarem na minha cabeça.

   * * *
   Enquanto isso, do outro lado da pista, Ollie também teve seu encontrão do dia quando do nada uma mulher bateu contra ele.
   -Oh, meu deus, desculpe! - Disse ela, em inglês, mas com sotaque perceptivelmente paulista. - Você está bem?
   -Acho que eu vou ficar! Me desculpe, você... Você é linda! - Sorriu ele. - Você... Está na cidade sozinha?
   -Eu tenho idade para ser sua mãe, garoto! - Reclamou. - E estou procurando meu filho!
   -Minha esposa, cara! - O marido se aproximou.
   O mais inesperado é que não era qualquer casal. Era justamente o casal que estávamos procurando: O Maurício e a Raquel!
   -Ok, desculpe! Você disse que perdeu seu filho? Que coincidência, também perdi meu irmãozinho e meu Au P... O Au Pair dele, se chama...! - Disse meu nome.
   -Desculpe, o Au Pair do seu irmãozinho é brasileiro?
   -Coisa da minha mãe!
   -É o mesmo nome do antigo tio-babá do meu menino! - Vira-se para o Maurício, agora falando em português. - Você... Acha que pode ser ele?
   -Não sei, não falei mais com ele desde que se demitiu! Mas se ele está aqui na pista, não custa tentar!
   Então, Maurício se aproximou de Ollie.
   -Desculpe, pode nos levar até o seu Au Pair?
   -É o Au Pair do meu irmãosinho! - Protestou. - E eu não sei onde ele está!
   Então, sente alguém puxar o seu braço. Era Noah, que o havia encontrado.
   -Não precisa dizer, perdemos o nosso... O seu Au Pair! Droga!
   Naquele momento, com Pete desaparecido, a esperança da Raquel era que ele tivesse me encontrado e eu estivesse cuidando dele naquele momento (o destino é irônico), o que por sorte era realmente o que tinha acontecido. O problema agora era encontrarmos uns aos outros na enorme pista de gelo cheia de pessoas. Mas isso também demandava colocar os meus próprios sentimentos sobre Pete e sobre meu antigo emprego no bolso e conseguir pensar com clareza e de forma racional no que precisava fazer. Mas só olhar para baixo e ver Pete sorrindo por ter me encontrado já tornava tudo mais difícil.

   Continua...

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Episódios anteriores:
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   O Winter Village do Bryant Park existe de verdade em Nova York, e seguem algumas fotos do lugar:
   


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