Saga de ser Autista Adulto #01


   Eu preciso escrever uma série de posts aqui só para falar de autismo, porque isso é importante, muda demais a vida da gente, e se eu sou obrigado a ter algo em comum com Paulo Kogos então vou ter que descontar em alguém, e infelizmente vai ser em vocês! Kk
   O que eu mais tenho pensado desde que peguei o relatório das sessões com a neuropsicologa é justamente de ver quais são os direitos que eu tenho, porque gente, conseguem imaginar a glória que é o fato de que finalmente ser diferente dos outros e simplesmente incapaz de se encaixar na sociedade finalmente vai ter alguma compensação? Pois é!
   No final do ano passado eu fui no supermercado fazer despesa. E fui no horário de pico mesmo, meio dia. Eu decidi que ia usar todos os direitos que nunca usei até hoje! Depois de tantos anos de bullying, ser deixado de lado e tratado como esquisito eu vou fazer despesa três horas da tarde para não pegar fila grande? Ou vou no mercadinho no bairro que quase não tem fila? O Caramba que eu vou! Não é só por necessidade não, é por justiça! Eu descobri que tenho para caramba em a ver com o universo e é claro que eu vou cobrar como nunca!
   Fui pela primeira vez numa fila preferencial, o laudo no bolso, sem medo de ser cobrado e ter que explicar que apesar da barriga eu não sou gestante! Só que é o seguinte, eu tenho pelo menos quarenta anos menos que a maioria que estava naquela fila comigo: Do nada cinquenta idosos olhando para mim! Eu juro que comecei ae sentir que nem uma tabela de bingo! Ou um frasco de Dorflex, que eu sei que a galera +40 é tarada num Dorflex! Ou num Rivotril também!
   Uma senhora até chegou perto de mim me encarando, e aí a gente fica naquela: Puxa vida, digo algo para a dona Neide ou espero ela berrar para o primeiro funcionário que passar que eu não tenho direito de estar ali? Resolvi a velha diplomacia:
   -Sabe o que eu acho? Eles deviam ter gente aqui olhando porque tem muita gente que pega essas filas e não tem direito, né? Quer dizer, eu estou aqui porque eu sou autista, mas tem gente que claramente nem sessenta tem e está aqui!
   Na hora a expressão da face até mudou e ela ainda me deixou passar na frente porque eu tinha menos coisas. No fim, passei minhas coisas, ninguém perguntou nada e tudo certo. Eu juro que fiquei me sentindo uma criança depois de conhecer a Disney ao ver que passei em quinze minutos pela experiência que novemta pobres coitados ali vão passar em 40 minutos quem tiver sorte!
   E eu juro que queria olhar na cara do Carolino que fazia bullying comigo na quarta série na escola com o olhar daquele menino do comercial antigo da tesoura do Mickey e dizer: "Eu tenho direito, você não teem!". O que claramente eu não faria se ele estivesse lá porque provavelmente ia sofrer bullying de novo! Certamente hoje em dia ele continua maior que eu e se não estiver preso é porque tem dinheiro para subornar a polícia, o que implica que é mais fácil ser ele a dizer para mim: "Eu tenho, você não tem!" e depois me dar um chute na bunda!

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Ps: Obviamente o nome é fictício! Se ele se chamasse "Carolino" estaria mais do que explicado porque essa raiva do mundo!

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